Hoje é (ou era?) o primeiro dia de escola da Constança. Esteve até agora em casa, as coisas foram correndo bem, o registo e a dinâmica pareceu ir funcionando para todos os envolvidos, por isso, fomos mantendo na base do
"vamos indo e vamos vendo". Eu nunca tive um plano a longo prazo, nunca fui extremista ao ponto de defender só casa ou só escola, sabia que havia vantagens e desvantagens em cada um dos cenários, daí que tinha definido que a iria por na escola quando sentisse que a casa já não a estimulava o suficiente. Esse momento aconteceu depois do bebé nascer. A dada altura percebi que, com o bebé para dar atenção, não conseguia (eu ou a pessoa que estivesse em casa) focar-me no desenvolvimento dela, levá-la a passear, a andar de triciclo ou ao escorrega, não conseguia sentar-me ao lado dela a desenhar (e a limpar depois tudo o que sujava), a ensinar novas músicas ou palavras, ou até a insistir para ela deixar de usar fraldas. Sobrevivia-se, as coisas iam-se fazendo, mas começou a haver demasiado Canal Panda para o meu gosto -
"senta-te aí a ver a Patrulha Pata enquanto a mamã vai trocar a fralda ao bebé"; "olha o Panda! não posso brincar contigo, porque tenho que dar o leitinho ao bebé", e por aí fora. Por outro lado, desde que terminou a minha licença comecei a perceber que a Constança andava mais irritadiça, a precisar de atenção, e comecei também a questionar se o bebé teria estímulo suficiente, uma vez que a ama não conseguia ter dois minutos para o por no tapete de atividades (a Constança atirava-se logo para cima dele) ou passear com ele, por exemplo (é difícil para a ama passear sozinha com os dois).
Posto isto, tomei a decisão (um bocado sozinha, porque o pai inicialmente não concordava): estava na hora de ir para a escola. Consegui uma vaga para setembro, na escola que queria, por isso, foi uma questão de ir tentando convencer o pai, nos meses que faltavam. Lá consegui que ele concordasse comigo.
Hoje é (era?) então o dia "D". Já tinha a mala pronta desde ontem, o lanche e a farda da escola preparada para a vestir. Ontem, no entanto, comecei a stressar. Mas a stressar a sério. Não me deu para a choraminguice (estranho!), mas para os nervos. Comecei a questionar tudo. Será que a iriam compreender na escola? Eu percebo o dialeto dela, ela até fala relativamente bem, com alguns verbos e pronomes pelo meio, mas há palavras que ainda não diz direito e que nem todos percebem. Ela fala uma língua própria e às vezes tenho que a traduzir para os outros que não dominam a língua. Quem é que vai saber o que é o "Kuim" (coelhinho) e a importância que tem para ela? Quem vai saber o que é o "tim" (leitinho) e que, se o está a pedir, é sinal que tem sono? Quem vai saber o que é a "chi" (bolachinha) e que ela está com fome? Quem vai perceber, quando estiver triste, que o "cóínho" é ela a pedir colo? E o "Tai" (Panda style), quem é que ia perceber que, quando falar no "Tai", ela quer dançar? E isto ia piorando de minuto para minuto. Depois lembrei-me que eles não iam saber o ponto de desenvolvimento dela. Não sabem que sabe ler os números em português e inglês, e também as cores. Não sabem que sabe as notas musicais e adora cantar enquanto as toco. Não sabem que adora animais, dançar e dar cambalhotas. Não sabem o que a faz rir. Não sabem como reage quando tem sono ou está chateada. E como lhe dar a volta.
"Coitada da minha filha, vai ser incompreendida!" Quando dei por mim, estava a escrever um "manual de apoio à Constança". Às duas da manhã. E a enviar por email à educadora. Incluí um dicionário Constança - Português. Incluí os pontos fortes do desenvolvimento e os pontos a desenvolver. Incluí conselhos.
Tornei-me uma croma. Tornei-me uma croma. Tornei-me uma croma.
A seguir ao almoço vou deixá-la lá. Se não me der um ataque de choro. Sim, é o primeiro dia de escolinha. E custa muito. Mas acho que custa verdadeiramente é às mães. Os pais vivem isto mais na desportiva. As crianças acabam por adorar (eu sempre adorei a escola, por exemplo, e por norma é um sítio feliz para as crianças). As mães é que são umas cromas, muitas vezes.
Pelo menos eu acuso-me!